A FALSA LIBERDADE
- CADRINE
- 6 de fev. de 2019
- 5 min de leitura
Nunca senti uma necessidade tão grande de ter que sentar comigo mesma e ter que falar sobre isso, sobre as fatalidades e becos sem saída que damos a nós mesmos, e pelo menos umas 3 vezes na vida lá estamos nós pressionados contra a parede, sufocados, até o limite com quase tudo, até consigo mesmos.
Todo mundo chega ao seu pico com uma crise de meia idade, mas tenho uma péssima notícia para os jornais, os jovens não sofrem de meia idade, mas sofrem, ultimamente essa sensação de estar sufocado não cabe mais somente aos experientes, ela está aqui, bem ao lado de cada um dos adolescentes que completam 18 anos e depois disso saiba que, não há volta, esse sentimento de estar sufocado chega com as responsabilidades, os medos, a falsa liberdade e mais um punhado de coisas intermináveis da lista de como ser um bom adulto.
Aos 20 anos me encontrei nessa sensação perdida de estar a beira de um precipício, de viver e fazer as coisas que eu não gostava, por sei lá quem, talvez para agradar a família e ajudar dentro de casa, talvez para que a sociedade no geral me aceitasse mais por eu estar ‘’bem de vida’’, talvez porque eu já estava velha demais para ser sustentada por outra pessoa. Na verdade tudo que eu consegui tentando justificar esses motivos com o fato de que eu estava na lama, na mais profunda distância de mim mesma, e eu sentia saudades de como era ser eu, nem sequer me reconhecia dentro daquele limbo de fazer tudo e não pertencer a nada, a lugar nenhum, pois eu nunca tinha tempo o suficiente para me fazer presente. Tudo o que consegui com isso foi uma falsa liberdade, por achar que me entregar a novos projetos poderia me libertar de ‘’n’’ coisas que eram mais profundas do que somente trabalhar, na minha cabecinha eu achava que substituir o trabalho pela falta de afetividade das pessoas me deixaria imune as decepções, mas veja só, acabei me decepcionando comigo mesma.
A verdade é que busquei nos caminhos errados as respostas erradas e por conseguinte, obtive consequências mais erradas ainda. Foi um ano de transe hipnótico em que eu jamais poderia olhar para mim e dizer, essa sou eu com 20 anos. Não consegui a festa de aniversário dos sonhos, não consegui superar as percas ao longo do caminho, e toda aquela falta de tempo ocasionou nisso, em percas cruéis de pessoas me faziam mais parte de mim do que eu mesma poderia imaginar, passei meses me entupindo de todas as comidas deliciosas que o dinheiro poderiam comprar, evitava cada vez mais o contato direto com as pessoas pois quando não estava trabalhando era em casa estudando, sempre nesse parauniverso de criar responsabilidades para ser alguém.
E quanto mais eu achava que estava me tornando alguém, mais ninguém eu me sentia, eu podia até estar a beira de ser alguém que todos desejavam ou esperavam, mas eu já não me pertencia, não me reconhecia, não me amava, não me cuidava de dentro para fora. Perdi amigos, perdi a mãe, perdi a casa, perdi meu lar, perdi as marcas da infância, perdi a conexão e a capacidade de me conectar com os outros, depois eu quase me perdi na família, pelo estresse e a ansiedade. Todos os dias eu parecia perder um pedaço do que eu amava, pouco a pouco perdia a faculdade, perdi o dom de escrever, perdi a vontade de ler, perdi os eventos, as apresentações, as oportunidades únicas de me destacar.
Todas essas percas diárias me deixavam cada vez mais longe de ser alguém, de conquistar a liberdade que eu sonhava, sim sem sombra de duvidas o dinheiro poderia me dar em alguns anos uma casa e um caro, mas eu já não seria a garota que todos haviam conhecido, eu não seria feliz por completo, eu iria acordar todos os dias e ser a pessoa que sempre deixa tudo para depois, para a ultima hora, que não tem tempo e esta sempre ocupada. Eu seria esquecida e jamais lembrada, eu deixaria de escrever, logo deixaria a minha sanidade mental ir por água a baixo. Não era somente sobre ter estabilidade, era sobre mim, sobre o quanto lutei por meus ideais e eu estava ali todos os dias acordando com falta de ar e caminhando para o inferno, um inferno pessoal que eu mesma criei, não era justo.
E a quantidade de jovens na mesma situação que a minha não é pouco, deixar para tras a identidade pessoal para agradar a sociedade é o que mais fazemos e quando isso se torna maior do que nós ficamos doentes, a depressão e a ansiedade está ai parar provar que nada do que eu digo é mentira. Jovens e adolescentes cercados pela pressão de tentar conseguir vencer na vida, entupidos de coisas para fazer, cumprir e se responsabilizar, até mesmo ao ponto de carregarem suas famílias e as despesas inteira nas costas, então são dias ruins pela frente, noites mal dormidas, o apetite vai embora aos poucos, e chega um ponto que ou você não come nada ou você come tudo o que ver pela frente. E isso não serve só para o lado de quem está na luta de trabalhar e estudar, isso serve para quem também não consegue e as famílias ficam pressionando.
Tudo o que consegui entender quando tomei a decidir para voltar ao ponto de partida é que as escolhas são nossas, mas elas acontecem por motivos maiores que aqueles que queremos, tudo pertence a Deus, ele escolhe primeiramente por nós e ele sabe o tempo em que tudo deve transcorrer. Ele entende as aflições e nos preparar para aguentar até certo ponto, e eu confiei nisso para me libertar e voltar a ser quem eu era.
Mas de certa forma eu fui hipócrita, no começo tudo o que eu queria era ter muito dinheiro não importava o quanto isso me custasse, e no meio de todo esse limbo eu perdi minha mãe e nem pude passar por todas as fases do luto direito porque alguns dias depois o dever me chamava. Pouco tempo depois tudo que eu queria era sair, por que notei aos poucos que ter algo a custa de tudo não vale nossa paciência, nada que nos machuque vale de fato nossa paz, não importa se é um namorado, um emprego que lhe suga, uma faculdade que lhe entristece, um amigo que se aproveita de você.
E ansiar para que tudo dê certo é completamente normal, mas viver consciente de que há riscos a serem corridos é válido, nunca se sacrifique tanto por algo, por alguém ou alguma coisa, não é egoísmo se colocar em primeiro lugar. Temos que nos conhecer, para depois sermos verdadeiramente feliz.
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