Era uma vez...
- CADRINE
- 4 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Era uma casa muito engraçada, não tinha teto não tinha nada, ninguém podia entrar nela não porque na casa não tinha chão, ninguém podia dormir na rede porque na casa não tinha parede, ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali, mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número zero.
Era uma vez... É exatamente assim que grandes e eternas histórias marcadas de injúria e depravações se iniciam. Você deve estar se perguntando no que isso tem haver com essa música de Vinicius de Morais, pois bem. Era uma vez um país, explorado e revertido em chacota mundial, que não tinha uma visão além de ser devastado, sem nenhuma proteção o Brasil foi dominado nos seus anos iniciais por um capitalismo que ainda nem poderia ser considerado capitalismo, mas as capitanias hereditárias estavam ali para nos mostrar quem somos e para onde vamos: para a senzala, para o sofrimento.
Era uma vez um país que ninguém entra e ninguém sai, que ninguém que seja tão pobre não consiga ficar mais a mercê e pobre assim, e não tão diferente de agora. Pois bem, era uma casa que não se tinha onde dormir, era uma casa vazia, igual a cota de oportunidades, era uma casa muito engraçada, porque a desgraça dos outros lhe cai bem quando se tem tudo.
E os bobos? Ainda são os mesmos de antes, os mesmos da rua número zero, e quem são? Ora é claro que é o povo, o povo que acorda as 4 da manhã para pegar 3 ou 4 ônibus. Mas na minha realidade social talvez as pessoas não entendem, porque não veem de perto, ou porque não precisam, ou porque não são devastadas pela dor que algumas famílias são. E as mesmas pessoas que construíram essa casa, pedem para que não digamos o quão feia ela é, veja como isso é possível.
Já faz 30 anos que ainda vivemos a merce de uma certa casa, e o retrocesso continua, quando pensávamos que por um milésimo de segundo a geração X iria chegar e revolucionar as escolhas e questões midiáticas, eis o golpe que levamos na boca do estomago como se fosse um belo touché.
Para ficar gravado na memória das próximas gerações que virão, algumas verdades e fatos tem que serem ditos agora. ''Meninos vestem azul e meninas vestem rosa'', meus caros, as crianças não nascem preocupadas com que elas vão vestir, são os país que dizem, ''você pode usar isso'' ou ''você não pode usar coisa de menina'', posso profanar coisas das quais vou me arrepender, mas que sem noção tentar justificar as campanhas de câncer como sendo algo de cor não tem gênero. É claro que não tem, as campanhas de câncer além de serem alvos para adultos, ainda há algo que estamos por esquecer, afetividade sexual não diz respeito a gênero. Exceto as transexuais, todos somos ou homens ou mulheres, não importa se seu vizinho homem é gay e gosta de homem, não importa se ele é bichinha, viado ou sei lá o que, é como ele se identifica perante sua espiritualidade e seus documentos, não é restringindo a nossa paleta de cores que vamos resolver em um piscar mágico de olhos ''as famílias deturpadas pelos viados''.
Não é porque fomos roubados lá no começo que vamos roubar o direito dos outros, as terras dos outros, daqueles que vieram antes de nós, é isso mesmo, eles estavam aqui antes de nós e como pragas sanguessugas que somos devemos isso a eles, a isolação. Devemos respeitar até onde podemos ir sem prejudicar os outros, mas sei que isso não cola pros empresários e milionários, o sangue dos índios pagam o Chandon deles, e o desmatamento paga os moveis e os bichos pagam as bolsas de grife das suas esposas, mas o que o trabalhador brasileiro ganha rindo do outro? Mais chacota mundial.
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