Mary Shelley - O reflexo da solidão.
- CADRINE
- 25 de dez. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de jan. de 2019
Mary Shelley, feminista, idealista da justiça política, crítica, artista e escritora, contempla-nos com a classe e o romantismo do momento em que nasceu sua principal obra, Frankenstein.

(Fonte: Retirado do Pinterest).
O filme lançado em 2017, conta a história de Mary Wollstonecraft Godwin (Ellen Fanning), que perdeu a mãe logo após o seu nascimento, sendo criada por seu pai William Godwin (Stephen Dillane), um escritor e crítico literário importante na sociedade local. Criada com uma educação informal, mas aprofundada pelo seu tenor aos livros de justiça política e literatura gótica, Mary traz fortes idealismos que sua mãe também cultivou ao longo da vida, tornando-se uma mulher mais a frente do que a sociedade daquela época poderia contemplar.
Por sua dedicação e ternura a literatura, Mary acaba conhecendo Percy Shelley (Douglas Booth) na Escócia, que é um escritor e admirador de seu pai... e por ventura se reencontram em Londres quando a mesma retorna para casa. Ansiando por seguir os caminhos de Godwin, Percy se torna apadrinhado da família e permanece algum tempo com os Godwin. Ao longo deste tempo, logo os jovens Mary e Percy se encantam idealista e apaixonadamente um pelo outro, a jovem vê nela todo o retrato que imaginou da vida dos pais quando sua mãe estava em vida, buscando por mais do que sua sociedade poderia lhe dar, ambos fogem e levam consigo Clair Clermont, a meia irmã de Mary.
Mary sentiu o suspiro do abandono a primeira vez quando nasceu, logo após a morte de sua mãe. depois a mesma sentiu-se devastada e solitária ao procurar o pai. Durante o escândalo do jovem casal que corria a solta por Londres e ao ver tanto assim como mero telespectadores jamais imaginamos que ela seria abraçada pela solidão, ela se faria inteira e descoberta perante seus dias melancólicos e solitários.
Folhas caídas, mesas dispostas e vazias, a casa na maior calmaria que assusta é o calor da lareira ardia, mas não ao ponto de conseguir quebrar as pontes de gelo que foram construídas com a partida de Clara. Em tão pouco tempo aquele ser trouxe plenitude e a certeza das escolhas a Mary, mas vê-la partir foi bem mais do que só uma perda, foi a convicção de que jamais seria uma boa mãe, por simplesmente não estar preparada por não correr suas veias e pertencer ao seu sangue, era assim a maternidade para a jovem Mary Godwin.
Mas até sua relação com Percy tinha percalços indissolúveis ao amor, o escritor a amava tanto que acreditaria que Mary seria livremente sua, que não poderia obrigá-la a ficar com ele. Enquanto que ela optou por não ficar com ninguém, senão Percy Shelley, mas o mesmo sempre estava a indagar se ela realmente acredita que o amor é livre, como pregava sua mãe.
Ao longos desses questionamentos o casal briga e a jovem escritora arremata de seus princípios aquele que lhe rege desde o nascimento, desde a primeira vez que pos os pés neste mundo, ela se faz ciente que ''foi trazida ao mundo para ser abandonada''.
As aventuras e desbravuras do trio permitem a jovem moça passar e reconhecer os tormentos da perda, ao engravidar de Percy e em pouco tempo perder sua filha Clara, tomada pela solidão e o devaneio quando então seu companheiro a leva para o encantador Lord Byron em Genebra.
Deu-se então inicio ao verão em que todos presentes ali seriam responsáveis por escrever suas histórias de fantasma, o convidado Doutor Polidori deu início a sua obra ''O vampiro'', que mais tarde seria roubada por Byron e publicada pelo mesmo, levando consigo todos os créditos da obra, enquanto a finalidade de ''o vampiro'' era criticar Byron como sendo um sanguessuga das almas e das vidas das pessoas, principalmente das mulheres que o rodeavam, enquanto Mary sentia suas emoções se reunirem para a chegada da sua obra prima.
A ida a Genebra não foi para totais devaneios, Clair Clermont havia tido alguns encontros com Byron, ocasionando assim em uma gravidez indesejada, para contar-lhe a verdade ela levou seus enteados até Byron. Diante de seus olhos Mary testemunhava agora o sentimento de abandono e solidão perante com sua meia-irmã
Foi através da solidão que a rotulava que a moça conseguiu mostrar a todos ali a sua volta que estavam rodeados de uma melancolia sombria e cruel.
Ao conhecer o Galvanismo a Sr. Godwin se sente maravilhada, tanto por seu amor antigo à ciência como pelas conexões, tudo isto contribui para os conceitos que a fizeram criar Frankstein, foi o galvanismo e a ciência de Polidori que a despertou o saber e conhecer de reviver os mortos, os delírios a noite com suas percas a impulsionar querer ter esse abandono e perca revogados por quaisquer que sejam os momentos.
CONCLUSÃO
A dramaturgia clássica de Mary Shelley está mais viva do que seu filme pode contemplar, na realidade Mary se casa com Percy após a trágica morte da esposa Harriet, deixando de ser a senhora Godwin para tornar-se a senhora Shelley, a mesma ao longo da vida engravida e passa pela morte de dois filhos, antes de completarem mais do que 3 anos de idade. Mas perante os nós mantem-se e dedicar as escrituras do marido e também aos seus poemas, Mary de fato era uma mulher que ultrapassa gerações pelo seu olhar crítico e sensitivo, pela sua beleza e classicismo, por toda sua compaixão e força ela conseguiu se sobressair perante as demais, perante as tolas e fáceis foi a unica mulher de Londres daquele tempo que ousou ser apenas uma mulher, relutou para ser mãe e buscou no seu devido tempo o auge do seu primordial talento.
Mary veio para ensinar as mulheres do século XXI que mesmo a força do seu amor por Shelley ou sua família não poderia regrar o fogo que percorria seu corpo, ela em si própria não poderia renegar a sua essência, como ela realmente deveria ser, independente de quem tivesse que abandonar, só não abandonaria a si própria e aos seus monstros internos.
Por isso escreveu Frankstein, na tentativa de nos mostrar que nem todos os monstros são de fato como pensamos, que alguns de nós somos mais monstro do que poderíamos imaginar, ou pior, que muitos de nós nos identificamos com aquele monstro, com sua crueldade, solidão e abandono, no fim das contas Mary Wollstonecraft Shelley, não escrevia só sobre sua vontade de reviver as percas, ela escrevia sobre todos nós e o quão cruelmente solitários chegamos a ser na vida.
Mary utrapassa gerações, sua percepção da realidade é perpétua e constante. Sua força mostra o quanto podemos suportar.