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O luto não é uma linha reta...

  • Foto do escritor: CADRINE
    CADRINE
  • 7 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de ago. de 2019


O luto não é uma linha reta... Demorei mais tempo para entender isso do que poderia imaginar. Sabe, quando eu imaginei perder alguém em algum dia na minha vida sempre pensei que meus primeiros dias e anos seriam dolorosos e cruéis, eu não estava errada, os dias são mesmo dolorosos e cruéis, mas não da forma quê imaginei, que tão logo sentiria a imensurável perda de alguém.




Todos as vezes em que imaginei a morte chegar eu estava preparada e amparada por uma solidão terrível que consumiria quem eu sou, meus dias, meus sentimentos, assim como as pessoas ao meu redor. Eu sempre imaginava que o luto não me permitiria seguir com os meus dias adiante, seguir em frente não seria mais algo pra mim, seria uma perca tão inexplicável, quase que como se não houvesse vida após a morte, e mesmo a morte não sendo minha eu iria ser consumida pouco a pouco, em todos os lastimáveis dias por ela. Então ela veio, serena, cruel e silenciosa, ela estava lá conosco desde alguns dias antes, ela sentou-se na nossa mesa, desfrutou dos nossos últimos dias, ela a permitiu ser quem ela era, (minha mãe). Mas depois ela veio a tomá-la, tirou sua alegria e substituiu pela dor, tirou seu entusiasmo e trocou pela agonia, tirou a compaixão na sua voz e devolveu as palavras em despedidas, (poucas, reprimidas e por fim, jamais ditas), a morte estava ali na nossa casa se preparando para o bote final. Eis que o momento chegou e todas as coisas que formavam o meu ser humano preferido na terra hoje, são só coisas, e eu imaginei não estar preparada para isso, nós nunca estamos aptos o suficiente para aprender a dizer Adeus. E desta vez não foi diferente, eu realmente não estava sequer esperando aguentar o fato de que alguém que eu amo não estaria mais aqui, e não está. No entanto, já estava feito e eu achei que nunca superaria, que viver seria um martírio sombrio e recheado de nada, eu estava enganada... eu sabia lá no fundo como seguir em frente, só não entendia que seguir em frente não é o mesmo de superar, porque meu luto não estava ali só pelos primeiros dias e meses, eu não tinha que obrigatoriamente que fazer reclusão de um ano, não era isso o que ela queria, mas como eu demorei e me culpei até hoje, até o dia em que eu pude perceber que quando perdemos alguém carregamos conosco o luto, em todos os momentos, nas lembranças e nos dias mais importantes, continuaremos ali em luto pelo tanto que amamos, só assim eu pude entender que não precisava me culpar por estar vivendo, sorrindo, me divertindo, viajando e etc, eu não podia (e não posso) deixar que o luto me transforme em algo que minha mãe não queria que eu fosse, pois ela sempre me incentivou a viver em harmonia, em plenitude, em fazermos o que nós gostamos, o que amamos e o que nos deixa bem, não importa o que fosse, desde que sejamos honestos. O luto não nos permite esquecer e amar mais ou menos alguém que se foi, o que aprendi até agora, mas ainda há o que aprender, é que o luto é meu respeito e a gratidão pelo o que vivi ao lado daquela pessoa, e para isso não preciso abdicar de quem eu sou (ou quem eu quero me tornar). Certa vez conheci alguém que queria se privar de ser feliz porque perdeu o pai, depois que ela pode entender que jamais o pai a culparia de viver, ela conseguiu ser tão iluminada e abençoada como antes.

 
 
 

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