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É dor ou culpa?

  • Foto do escritor: CADRINE
    CADRINE
  • 30 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Viver com ansiedade é uma perspectiva de vida atenuante.


Há tantas coisas que não fazem mais sentindo, como a tv no volume alto, o recado guardado dizendo “eu vou a feira”, o pedido para organizar a pilha de roupas, e assim sucessivamente os dias são preenchidos de um amontado sem sentido que me consome.

Eu queria baixar o volume e sentar um a um para uma conversa da verdade, queria ser capaz de mostrar o meu lado a cada pessoa que se questiona “porquê” mas a maioria nem sequer está preparada. A verdade nunca foi um antídoto que a humanidade cogitou em injetar!

Eu queria gritar para a pessoa que só sabe falar gritando comigo, que menos tem moral para exercer poder. Eu queria abrir as cartas e deletar alguns números que ainda estão aqui na minha caixa postal, mas eu não tenho coragem, nunca passou pela minha cabeça considerar apagar teu telefone da minha agenda. Assim como nunca imaginei em me desfazer de algumas roupas, mesmo que me desfaça das minhas, não consigo me desfazer daquelas roupas especificas.

Queria chegar em casa e sentir que ali é o meu lar, encontrar alguns propósitos para seguir todos os dias involuntariamente respirando, já faz alguns poucos dias e ainda acima do cansaço só encontro motivos para dar um basta.

Acredite naquela história de a dor consome as pessoas, e cada indivíduo ao redor é um culpado nesse caso. Meu pai é culpado pelas mentiras na cara dura, pela humilhação que está nos colocando, por não honrar o tempo de luto, pelas vezes que grita comigo, por quando se lembrar de que tem a função de pai a fazer, exagerar excessivamente nas perguntas, - mas um sábio alguém me disse que o homem não perguntar porque quer ajudar, pergunta para matar sua curiosidade, pouco se importando com o resto – eu verdadeiramente poderia passar um dia enumerando as culpas a serem carregadas; mas minha irmã também é culpada, por sempre acha que esse é só o meu jeito, que eu sou só rebelde, que tudo não passa de ignorância quando na verdade não consigo nem controlar os meus sentimentos, e se eu pudesse queria sentir e viver apenas coisas boas, porém não consigo, há uma dor tão grande que se instalou aqui que eu não sei mais como tirá-la... alguém, decidam entre vocês é culpado pelas noites que passei com fome, com a barriga rocando, sem forças para estudar ou andar.

Há um culpado por todas as vezes que eu quis conversar e me passaram para trás, que eu pedi perdão e minhas palavras foram ignoradas, e diante de todo esse peso morto que me tornei, eu só queria me livrar dessa dor, eu só queria deixar de ser a pessoa inútil que as pessoas ao me redor me categorizaram. Hoje eu estou mais uma vez me despedindo de alguém, e eu queria tanto que este alguém viesse logo me resgatar dessa dor de não saber porque acordar todos os dias e seguir as horas de um relógio incerto, sem propósitos ou futuro.

Para toda dor que há em mim há um indivíduo culpado que me consumiu, que me deu um não, que fez com que eu me sentisse mais lixo do que normalmente as duas pessoas com quem eu moro fazem, se é que isso é possível, mas constatei que sim. Sobrevivo todos os dias torcendo para que o amanhã seja o último, para que pare de doer, para que eu esteja com as pessoas certas.

 
 
 

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